A revolução das mídias independentes: Como a era digital redefiniu o jornalismo no Brasil
Em meio ao declínio das mídias tradicionais, plataformas alternativas ganham força

A comunicação vem sofrendo constantes mudanças. Só na última década, o surgimento das mídias sociais e o uso dos dispositivos móveis possibilitaram diversas transformações. A sociedade mudou e as profissões precisam se adaptar, estamos vivendo a era do tudo e agora, pois o celular roubou o espaço dos principais meios comunicacionais.
Tais avanços permitiram o surgimento de mídias independentes com o objetivo de propagar os movimentos sociais, cumprindo o papel das mídias tradicionais, que, por sua vez, cedem aos interesses envolvidos. Brasil de fato, Jornalistas Livres, Mídia Ninja, Revista Fórum e The Intercepth Brasil, são bons exemplos
A gestora de comunicação da Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação), Thanee Degasperi, 31, recebeu a equipe do Conecta em seu escritório e contou um pouco sobre o surgimento da equipe. "O fora do eixo surgiu por meio de festivais independentes. Tínhamos casas coletivas em diversos estados, onde os músicos e produtores podiam ficar, e cada lugar produzia seu movimento, e ficava muito restrito. Então decidimos unificar os festivais através das transmissões ao vivo e trazer essa comunicação para que, tanto as pessoas do Sul, quanto do Norte pudessem participar".
A transmissão ao vivo, função disponível nas redes sociais, é a identidade da equipe, que repercutiu durante as manifestações de 2013. "Um dos nossos ninjas viu um grupo de ativistas black bloc, queimando um totem da Coca Cola e decidiu fazer um ao vivo, isso foi em São Paulo, e deu cerca de 200 mil pessoas assistindo, foi muito forte". Como eles já tinham o costume de cobrir os eventos culturais e, em seguida, vieram as Jornadas de Junho, o grupo foi para rua. Thanee disse que, desde a metade da primeira gestão da ex presidente Dilma, a equipe se aproximou muito do campo político e dos partidos progressistas sociais. "Por todo o momento político que o Brasil vem e está passando, focamos nossa editoria na política", completou.
O temível deadline
Quando se fala dos desafios da profissão de ser um jornalista, a rotina de trabalho é a queixa principal e, quanto a isso, as mídias independentes não precisam se preocupar com a rotina institucional, porém, a agilidade com que eles têm que produzir é semelhante ao das mídias tradicionais. "Nesse contexto do jornalismo alternativo, acredito que seja o de um entendimento desse funcionamento que traz, sim, traços de um fazer tradicional dentro de uma estrutura horizontalizada que busca, acima do lucro, um maior grau de participação popular. Falo, nesse sentido, da mídia alternativa enquanto parte das iniciativas de economia solidária, no contexto de uma pós-democracia", acrescentou.
Elisangela atuou por dez anos na TV Globo Minas e há oito à frente do telejornal Bom Dia Minas. Atualmente, trabalha como assessora de comunicação, produtora de conteúdos web, pesquisadora e leciona as disciplinas: Jornalismo Alternativo e Mídia e Direitos Humanos, na Pontifícia Universidade Católica (PUC MG). Para ela, o jornalismo tradicional ainda possui um lugar de privilégio. "Ao longo da história, o jornalismo se formou e reformou e, naturalmente, durante séculos, o conceito de notícia também mudou", afirmou. "O jornalismo tal qual nós conhecemos hoje, nas sociedades democráticas, tem suas raízes no século XIX e está ligado à emergência de um dispositivo tecnológico. Segundo Nelson Traquina (2005), até o século XVIII, os jornais representavam, sobretudo, armas na luta política e traziam opiniões. Além de outros impulsos, políticos e econômicos, um dos importantes motores para a configuração do ideal de um jornalismo fornecedor de informação, de notícias baseadas em fatos, em vez de propaganda, baseada em opiniões, foi o desenvolvimento da imprensa", finalizou.
Entre a competição do computador e a televisão, o desafio é o de permanecer, pois, a todo instante, surgem novas maneiras de se comunicar. O jornalista Junior Cartiel, 24, criador da página da internet "Virei Jornalista" diferencia-se pela originalidade e irreverência. Há dois anos ele mostra a realidade do profissional em diversas situações. Ele contou que, apesar das barreiras e dificuldades, o exercício da função pode trazer boas experiências. "Quando se faz com amor aquilo que você gosta, você nem percebe que está trabalhando. É assim no jornalismo. Raiva todo mundo passa, isso é inevitável. Mas o jornalismo te dá o gostinho de aprender uma coisa nova todo dia. Conhecer novas histórias e aprender ao mesmo tempo. Então, quando satirizamos o jornalismo queremos mostrar que ele não é perfeito, mas é suportável".
Na mesma perspectiva que Colodeti, Cartiel diz: "Acredito que os veículos tradicionais se mantiveram, porém, sem destaque, pois ainda sim é possível ver repercussão nestes veículos. Já as outras mídias ganham espaço por ser um jornalismo mais parcial". A tendência é aumentar cada vez mais as mídias independentes: "Quem acompanha percebe que se trata de veículos que dão opinião. A tendência é aumentar, mas ao mesmo tempo sem perder o foco".
A população brasileira está ligada nos canais de notícia e ao mesmo tempo nas páginas da web. Embora todos tenham acesso ao celular, nem todos possuem acesso a redes de internet. Ao mesmo tempo, em contrapartida, nem todos possuem acesso à TV. As mídias tradicionais possuem recursos financeiros para montar grandes espetáculos e construir uma realidade em que a população dará crédito à narrativa, mas, o que pauta o trabalho do profissional não é o equipamento de última geração, e sim a vontade de fazer. Em suma, o desafio é manter-se atual, acompanhar tudo, ser atento e ético, descobrir novas formar de chegar ao público.
Publicado no Portal Conecta Fumec
Foto: Reprodução - Mídia Ninja/Internet