O luto é inevitável: como lidar com a perda em tempos de pandemia
Especialista analisa o sentimento individual e coletivo diante da perda de entes queridos

O nosso país sempre foi instável, mas desde o início da pandemia mundial da Covid-19 estamos passando por dias cada vez mais intensos, as centenas de mortes causadas todos os dias pelo coronavírus mexem muito com a gente. Ficamos com o coração partido quando vemos histórias rompidas abruptamente e acompanhamos a dor das famílias que não podem nem se despedir direito de seus entes queridos.
Agrega-se a esse luto individual os recentes falecimentos de celebridades, pessoas o qual de alguma maneira, seja em menor ou maior grau, fizeram parte da nossa vida. Assim, temos o luto coletivo, que de certa forma estamos enfrentando juntos.
Antes de partirmos para a análise de Debora Garcia, mentora e especialista em fisiologia, acerca do nosso cenário atual, é válido observar que o significado de luto pode ser descrito por um processo de aceitação de uma perda significativa, seja ela a morte de uma pessoa próxima, alguém muito querida, ou o fim de algo importante - por exemplo, o término de um namoro, casamento ou amizade.
Do luto individual ao luto coletivo
Os dados não param de ser atualizados no Portal do Ministério da Saúde. Atualmente já ultrapassamos a marca de 430 mil mortes por causa do novo coronavírus e esse número assusta de maneira geral. Outro acontecimento que tem impactado o país são as mortes de celebridades que, somente no dia 16 (domingo), perdemos três grandes personalidades da mídia: a atriz Eva Wilma, o ex-prefeito de São Paulo Bruno Covas e o cantor de funk Kevin Nascimento Bueno, conhecido como Mc Kevin.
"Essas notícias que estamos vendo geram emoções reais em nós, então o que estamos sentindo é verdadeiro, faz parte da nossa natureza racional e sentimental. Seria estranho se fôssemos indiferentes às mortes de pessoas, sejam elas de grande exposição ou não", pontua a especialista.
Em relação ao atual cenário de muitos falecimentos, a especialista Debora Garcia avalia que no momento o Brasil está se dividindo entre sofrer pelo sentimento individual e coletivo. "Já estamos vivendo com esse sentimento desde o ano passado. O primeiro, está no íntimo, quando se perde um ente querido ou um amigo. A situação se intensifica quando acontece a morte de alguém famoso. Juntando os dois, que é o que estamos vivendo, vivenciamos não só o luto individual, mas também o coletivo que é um luto da comunidade", observa a especialista.
O sentimento de familiaridade e carinho que se cria com algumas personalidades também favorece tudo isso. Assim a meditadora analisa:
"O trabalho dessas pessoas está presente na nossa casa, por exemplo, quando se ouve uma música, assiste um filme, uma novela, o famoso pode criar um sentimento nas pessoas e passa a fazer parte da vida e da história delas, de alguma maneira. Então, quando esses astros partem existe um sentimento coletivo de grande tristeza".
Deixe esse sentimento fluir naturalmente
Como explicado acima, o luto é um processo de aceitação que acontece de maneira gradativa. É preciso saber lidar com os sentimentos dentro do possível e não reprimi-los.
"Existem algumas fases do luto, mas quanto tempo cada pessoa vai levar para passar por elas não dá para garantir. Portanto, deve-se respeitar o tempo de cada pessoa e dar suporte e acolhimento para quem está passando por isso", pondera.
"Não é diferente no coletivo, que também merece compressão, independente se o artista tem ou não a sua admiração, é preciso saber que ele cativa o outro. Então, as pessoas que estão vivendo esse sentimento, precisam de respeito, carinho e cuidado".
"A morte é um momento de finitude e despedida, é um momento de encerramento de um ciclo de um tipo de relação. O que não seria natural e saudável é fingir indiferença e tristeza por uma coisa tão forte, que no fundo nos comove tanto", finalizou.