Além da Abolição: A busca por heróis negros na história brasileira
Um olhar sobre a construção da identidade afro-brasileira e a necessidade de novas narrativas

Nas últimas décadas, os negros brasileiros perceberam que a luta incitada por Castro Alves, em suas obras literárias, deveriam ser levadas adiante, mas, agora, não mais pela abolição, e sim pelo o fim do preconceito racial, desigualdade e discriminação social
Atualmente diversos grupos sociais e muitos negros de destaque na mídia, como: as jornalistas Maju Coutinho e Glória Maria, e o casal Lázaro Ramos e Taís Araújo, têm afirmado sua identidade afro-brasileira por meio de manifestações e atividades culturais. E a discussão ganha força com base nos atuais acontecimentos.
O Brasil é cheio de misturas de etnias, religiosas e culturais. Sabemos que somos mais de 207 milhões de habitantes e a maioria são negros ou se autodeclaram. E das três etnias que nos formaram (branco, negro e indígena), apenas o índio se tornou "herói", tanto na literatura em O GUARANI (1857), de José Alencar, quanto no cinema em Tainá - Uma Aventura na Amazônia (2000), dos cineastas Tânia Lamarca e Sergio Bloch.
Em 1530 houve a Colonização que não aconteceu de forma pacífica, em três fases: exploração, produção e comercialização do Pau-Brasil e do Açúcar, com uso da violência para conter as manifestações dos indígenas e assim apropriar das terras; uso de mão de obra escrava (indígena e africana) e exploração do território. O branco, por se identificar com o colonizador, não pode ser nosso representante, porque isso entraria em contradição com o sentimento nacionalista, que surgiu após a independência (7 de setembro de 1822).
Em 1531 chegavam os navios negreiros. E por representar a mão de obra e ser visto como base / alicerce econômico, seria um choque levar o negro a uma condição de herói. Então coube ao índio, isento de toda negatividade social e econômica, esse papel.
Não quero diminuir ou menosprezar toda luta histórica dos Indígenas, que também passam por situações iguais, ou piores que as dos negros. Pelo contrário, acredito que a união dessas duas etnias pode contribuir para um fortalecimento da nossa cultura e destruir pré-conceitos estabelecidos. Toda luta é válida.
O conceito de herói é bastante amplo e implica diversas discussões, pois varia de região e época e para o recorte deste texto, trabalhei com a ideia de herói de acordo com a sua definição: "termo atribuído ao ser humano que executa ações excepcionais, com coragem e bravura, com o intuito de solucionar situações críticas, tendo como base princípios morais e éticos. Além de bravura e coragem".
Nascido em 14 de março de 1847, na Bahia, Castro Alves é reconhecido pelas suas poesias que são marcadas pelo combate à escravidão. Talvez ele seja o primeiro poeta social brasileiro e fundador da poesia engajada no país. Por defender seus ideais e ter a consciência dos problemas humanos da época, Castro Alves passou a retratar, em seus poemas, o lado esquecido: a escravidão dos negros, a opressão e a ignorância do povo brasileira e sua linguagem romântica fez com que ficasse conhecido como "Poeta dos Escravos".
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